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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Borboleta no Cartão


Numa reunião, entre colegas foram deixados sobre a mesa, cartões coloridos, tipo postais, para que cada um de nós olhasse a figura e escolhesse aquele com o qual mais se identificasse. Escolhi a borboleta.
Por quê? A princípio pensei em liberdade, pois ela é um ser que desperta e representa muito bem a liberdade. E quem não sonha com ela?
Borboleta!...Tão frágil!...Frágil como um sobrevoar. Sonho que todos procuramos e, que somente com muita responsabilidade e limites, conseguimos atingir com um resultado enriquecedor.
Em seguida, pensei na borboleta, lépida, inquieta, saltitante, colorida, alegre... Esta sou eu. Sim, eu me acho uma borboleta! Assim mesmo, com todos estes adjetivos. Pela inquietação que mora em meu ser, com a vontade imensa de sempre estar em vários lugares e inventando  trabalhos diferentes. Colorida porque amo estar assim e mexer com as cores do arco-íris, com muita cor, tendo sensações novas.
Alegre porque tenho vocação para a alegria, optei por sorrir e suavizar o meu redor com positivismo e perseverança.
-E bela! - comentou alguém na sala.  - Isso não conta, retornei. Lembrei, então, que uma pessoa me disse que ser bela incomoda muito. Ao que eu respondi que a beleza não é mérito de ninguém, pois o que somos foi nos presenteado pelos pais. Ninguém é belo porque quer ou feio porque assim escolheu ser. Não há, portanto, mérito em ser bela. Mérito é ter bom caráter, ter uma bagagem positiva e enriquecedora. Mérito é ter a vontade e ser alguém na vida, de se esforçar para ter alguma coisa ou conquistar os lugares ou os títulos que buscamos com nossos talentos.
Olho novamente o cartão: sobre uma palma de flores, a borboleta repousa suas asas.
Amei o cartão. Amei o exercício. Amo ser uma borboleta. Amo ter a sensação de que sou livre ao encontro do vento e transparente sob a luz do sol. Frágil sob as águas das chuvas, alegre por poder passar e trazer um sorriso ao rosto de alguém que esteja triste e precise de uma distração qualquer.
Borboleta... É... Eu gosto de ser.

Texto de Janice de Bittencourt Pavan, em 09/09/14.

Francisco Cardoso de Bittencourt


FRANCISCO CARDOSO DE BITTENCOURT, filho de Alfredo Cardoso de Bittencourt e Alice Maria de Bittencourt, nasceu em Jaguaruna – SC em 4 de outubro de 1916.
Quando jovem veio morar em Imbituba para se fixar no Trabalho, onde conheceu e casou-se com Apolônia Patrício, natural de Cangueri de Fora, município de Imaruí, com quem teve doze filhos, um deles falecido ainda bebê, Jane Maria, com apenas oito dias, portadora de espinha bífida.
Os onze filhos, graças a Deus, vivos, são: José Geraldo, Janete, Janice, Jairo, Jaime, Jaci nascidos em Imbituba-SC e Jorge Luiz, Jair, João Batista, José Lino e Jane Cléia, em Siderópolis, formando a tradicional “escadinha”, costume da época. Sou a terceira do clã.
Em Imbituba, morávamos em frente à rua paralela à Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina. Entre muitas casas, havia a nossa, a do compadre Villi, que era proprietário do Cartório de Registro Civil Inês Barreto de Souza, sua esposa, nossos vizinhos muito queridos. Atravessando a rua, bem em frente, havia um bosque de eucaliptos cortado por um caminho muito simpático por onde passávamos para visitar o pai ou levar comidinha pra ele na oficina da CDI - Companhia Docas de Imbituba. Nela, trabalhou até 1954 como mecânico e à noite foi operador de máquina que rodava filmes nos cinemas.
Em 1954 nossa família (Francisco, Apolônia e os sete primeiros filhos) veio para Rio Fiorita, Distrito de Nova Belluno, mais tarde Siderópolis, por admissão da Companhia Siderúrgica Nacional. A primeira residência foi no Rio Fiorita, Rua 14, próximo à Igrejinha Santa Bárbara, mais tarde numa das casas geminadas da Vila Residencial da CSN, Rua 6, próximo ao Recreio do Trabalhador, Panificadora, Açougue e Armazém da mesma empresa. Em 1962, nos mudamos para uma casa de propriedade, na rua próxima a Estrada de Ferro, Rua Assis Brasil, 19, sede de Siderópolis, casa esta comprada do Sr Manoel Quadra, que em seguida veio a ser sogro de meu irmão mais velho, José Geraldo.
A companhia Docas de Imbituba foi criada em 03/11/1922, tendo Álvaro Monteiro de Barros Catão como diretor e foi importante na exploração de carvão através do Porto de Imbituba, onde todos os navios de carga ou passageiros da Companhia Nacional de Navegação Costeira faziam escala.
Com a descoberta das jazidas de carvão no sul de Santa Catarina e a construção da Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, fortalecimento do Porto de Imbituba, aumentou a exploração do minério e, com os incentivos do Governo e participação da Companhia Siderúrgica Nacional, chega em Siderópolis a maior segunda escavadeira de carvão do mundo: a Marion Dragline 7800 - USA cuja montagem iniciou-se em 1961 e contou com uma equipe especializada de engenheiros e mecânicos, entre eles, meu pai, Francisco Cardoso de Bittencourt.
Lembro-me do orgulho que ele tinha por ser um dos mecânicos que montou a Marion. Brincava com as visitas que, por tanto entusiasmo da parte dele, supunham ser uma moça, uma namorada. Ele ria e explicava: - Não, não precisa ter ciúmes, a Marion é uma máquina, a segunda maior do mundo em extração de carvão. Veio dos USA. - Inflava o peito, descrevendo como era e o que fazia para retirar o carvão.
Foi um pai muito atencioso com os filhos, não queria que faltasse nada para os mesmos e, sempre que um filho resolvia se casar, ele não media esforços; pelo contrário, dava maior apoio e ensinava a construir o “ranchinho”, casa tipo um, que servia de morada para o casal durante o primeiro ano. Companheiro, colaborador nas tarefas de casa, a ponto de cozinhar para a família, enquanto nossa mãe, D. Apolônia, saia a vender Avon e capas de eletrodomésticos.
Foi um profissional muito dedicado, chegava a ser “Caxias” no cumprimento do dever. Trabalhou sem parar até estar a poucos dias da aposentadoria, quando...
Numa madrugada fria, nunca esquecerei, ele foi chamado para substituir um colega. Prontamente, como sempre fazia, esperava o jipe da Cia para pegá-lo, ouvi minha mãe dizer:- Leva um casaco, homem! Não precisa pressa! Cuida-te! Ele tinha o hábito de sair às pressas, somente de macacão. Ele, na euforia por ser útil, dizia brincando:- Quebrou um dente, vou ser o dentista da Marion. Voltava faceiro e orgulhoso no final do expediente.
Naquela madrugada de 1968, porém, quase morre. O acidente ocorreu porque (não sei quem foi, nem me interessa saber) antes que fosse dado o aviso, o maquinista, por engano, ligou o motor e meu pai foi sentindo os cabos de um enorme rolo ferir- lhes as pernas. Felizmente ou por providência divina ele teve a feliz ideia e tempo para pendurar-se acima, não sei dizer bem onde e ali ficar pendurado, enquanto seu corpo ia sendo dilacerado. Não fosse a interferência e aviso de seu compadre Sr JACOB FIRMINO DE SOUZA (in memoriam), com um assobio fortíssimo, ele teria sido juntado à pá, triturado pelo cabo de aço, onde ele cumpria uma tarefa, nos seus últimos dias efetivos, fazendo um plantão que não era dele. Um acidente trágico que levou meu pai ao hospital de Porto Alegre por quase um ano. Nove meses internado, pois precisou fazer cinco enxertos e quatro plásticas para reconstruir sua perna . Ficou com sequelas no aparelho urinário e uma perna mais curta. Ao retornar ao lar era outro homem. Calado, tristonho, cheio de recordações. Vê-lo claudicando, era sentir a dor que somente uma esposa ou um filho sente.
Foi muito triste. Mais triste pensar que parece que ninguém lembra ou relata este trágico acidente. Entretanto, os que o amavam, sabiam o que ele sofreu. Mais triste ainda porque a poucos dias de concluir seu tempo de serviço, sofre o acidente e lhe dão aposentadoria por invalidez. Uma injustiça!
Oito anos depois dá entrada no hospital São José, da cidade de Criciúma-SC, onde fica internado por uma semana. Um tratamento simples que hoje poderia ser feito em casa. À época, não tínhamos o avanço de hoje. Não tínhamos telefone, o transporte era precário. Fomos visitá-lo no dia dos pais. Ficamos apavorados, segundo o médico, o quadro dele não era bom. E via-se mesmo, pelo aspecto e atitude desistente. Conversou conosco. Ouvimos alguns conselhos e só o deixamos porque terminara a hora da visita.
Na madrugada seguinte fomos chamados com urgência dizendo que ele estava na UTI. Ao chegar ao hospital conversei com o médico responsável que anunciou a dificuldade respiratória. - Ele fuma muito? - perguntou-me. - Que ironia! - Meu pai? Nunca fumou. - Não? - Admirou-se o médico. - Mas... Ele sofria de bronquite? - Sim, isto é um fato.
Ficamos ali aguardando melhoras mas não teve uma segunda chance. Deus quis levá-lo desta vez. Tinha apenas 59 anos, faria 60 em outubro. O laudo médico registrava Edema Pulmonar. Laudo que até hoje não me convenceu. Era 9 de agosto de 1976, um dia após o dia dos pais.
Texto de Janice de Bittencourt Pavan Em 04/08/15.