Costurando...
Acordei em 2015 com espírito de costureira.
Abri o baú de tecidos an-ti-gos....Alguns de vinte anos atrás, outros
já completando
bodas de coral.
Toda costureira que se preza tem um baú assim ,
cheio de surpresas em padrões e cores variadas.
Separei os tecidos de verão, lavei-os e pus a criatividade a funcionar.
Cortes , recortes, alinhavos, provas ...E os modelitos iam tomando forma.
As horas da tarde
eram pequenas pra tanta disposição. E quando ela vem, precisamos aproveitar. Afinal fazia
tempinho que não
costurava pra mim.
`A tarde deixava um modelito em ponto de prova e à noite
cortava outro .
A parte da manhã , é claro, reservava pras prendas domésticas. Afinal , o estômago morava
ao lado.Ops! Ou cá dentro?
Depois da folga para o almoço, retornava à arte de costurar.
Lembrei de tantas vezes que, à noite, mesmo muito jovem, ficava a fazer serão para
adiantar um traje pra festa.Tempo dos anos dourados em que os bailes eram a maior
e o melhor motivo para sairmos de casa, o mais inesquecível dos entretenimentos.
Aprendi a costurar aos dezoito anos , quase dezenove. Na época, com
pressa, sem ter quem fizesse, estiquei o tecido sobre a mesa e sobre ele um
casaco ( blazer), fui riscando, riscando aqui e ali...Cortei um novo. Um
blazer, minha primeira peça. Doida. Uma lã super cara. Minha mãe viu , assustou-se e em seguida
profetizou: esta vai ser costureira, não tem
medo de cortar pano.Acertou em cheio. Nunca mais minha mãe precisou fazer qualquer peça ou dar
alguma explicação
sobre costura ou acabamentos.
Hoje estou , claro,
com muita prática
. São anos e
anos na máquina
, sempre que me dá vontade
faço alguma coisa.
Hoje , em 2015 (voltando ao meu espírito de costureira) , tirei
muitos tecidos do baú,
priorizei alguns , coloquei minha aptidão à mostra que
me rendeu cinco vestidos ,uma camisola,
duas bermudas, três
lençóis com
elásticos e
quatro capas de travesseiros com zíper .
O baú que além de tecidos guardava também recordações (sim, pois cada tecido foi
comprado em épocas
especiais), foi ficando mais leve e a minha empolgação, mais evidente. Tanto que esqueci do
meu corpo. Dei um mal jeito na região lombar e ...não foi fácil !
Depois de tantos fazeres costurísticos, a artista gemeu. Gemeu de dor,
chorou de aflição...
Seria rim? Ou a coluna? Dúvida cruel.
É
...”Abusei , tirei partido de mim, abusei”... Não tinha posição pra dormir. Nem em pé, nem
sentada , eu conseguia descansar o corpo. A lombar estava prejudicada. Travada...Com falta
de ar..Quem dorme?
Bolsa de água quente...Relaxante muscular... Muita água...UFA! Foi o que me ocorreu como
primeiros socorros.
Para encurtar o texto, precisei do ortopedista: coluna
mesmo. Um mal jeito bem jeitoso. Conclusão:dez sessões de fisioterapia , injeções e
anti-inflamatório.
Apesar do sufoco, está tudo bem agora .
Estou realizada por ter dado uma vida aos tecidos
trabalhados.
Aos poucos as peças desfilarão em eventos novos , num corpito não tão jovem, felizes porque
cumpriram sua missão
finalmente. YES!
Texto de Janice de Bittencourt Pavan
Em 12/02/15.
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